A Essência do Comércio
Em 13 de junho de 2009, publiquei meu primeiro post
abordando um texto do mestre Fernando Pessoa. Embora muitos conheçam Pessoa por
sua poesia, poucos sabem que ele também tinha um envolvimento com o comércio e
os negócios.
Em 1926, ele editou a Revista do Comércio, na qual abordou
de maneira inteligente e cativante os temas relacionados aos negócios. Embora a
revista tenha tido uma vida curta, seus textos se tornaram imortais, como
acontece com todos os textos, mesmo que permaneçam escondidos em uma gaveta até
serem descobertos por acaso.
O texto a seguir nos faz refletir sobre o comércio e os
comerciantes, sobre técnicas que continuam sendo válidas até os dias de hoje e
que capturam a ESSÊNCIA DO COMÉRCIO.
Em "A Essência do Comércio", o autor aborda um
aspecto fundamental de qualquer negócio: conhecer o seu mercado e os seus
clientes. Ele descreve brilhantemente o verdadeiro papel do comerciante, ou
como o autor o chama, "um servidor do público ou de um público".
O
comerciante recebe uma recompensa chamada "lucro" pela prestação
desse serviço. O autor ressalta a importância de satisfazer o público:
"Todo aquele que serve deve buscar agradar aqueles a quem serve".
Além disso, o comerciante deve conhecer e ter empatia com o seu público,
pensando como eles pensam, em vez de presumir que pensam como ele.
Na realidade, o autor narra um caso interessante das
"egg cups" (taças para ovos) que ocorreu antes da Primeira Guerra
Mundial. Comerciantes ingleses perderam um mercado cativo para esses produtos
em suas exportações para a Índia porque ignoraram as regras básicas do
comércio, ou seja, conhecer o seu público. Os comerciantes alemães, por sua
vez, estudaram o mercado indiano e perceberam a insatisfação dos consumidores
com as taças inglesas. Isso ocorreu porque os ovos das galinhas indianas eram
maiores do que os ovos das galinhas inglesas, e as taças feitas para o diâmetro
médio dos ovos ingleses não se encaixavam perfeitamente. Ao resolver o problema
do diâmetro das taças, os alemães conquistaram o mercado sem precisar reduzir
os preços. Como o autor diz: "Eles resolveram, na Índia e para si mesmos,
o problema de comer o ovo de Colombo."
No texto, o autor classifica de forma brilhante o estudo do
público em três naturezas:
- Econômica
- Psicológica
- Social
No aspecto econômico, é necessário entender as condições do
mercado, incluindo o valor econômico dos produtos e as condições
concorrenciais.
No aspecto psicológico, é importante conhecer a
personalidade dos compradores. Independentemente do preço do produto, a
propaganda, distribuição e apresentação desempenham um papel fundamental.
Por fim, o autor destaca a importância de entender os
aspectos sociais, como política, situação econômica e moda, que podem exigir
alterações nos estudos econômicos e psicológicos mencionados anteriormente.
O autor apresenta a cada etapa dos estudos aforismos
brilhantes. Por exemplo, quando fala sobre os Estudos Econômicos, ele comenta:
"É surpreendente - na verdade, é assustador - o número de comerciantes que
cotam preços para um mercado estrangeiro ou nacional sem verificar se não estão
oferecendo um preço tão absurdo que os desqualifique intelectualmente. A
desqualificação intelectual, por vezes, é pior do que a moral, no ponto de
vista de quem recebe a oferta."
Ao abordar os aspectos psicológicos, o autor afirma: "A
humanidade é, sem dúvida, a mesma em todos os lugares. No entanto, em todos os
lugares, ela é diferente."
Por fim, ele demonstra seu fino humor ao tratar dos aspectos
sociais, como exemplifica quando diz: "Se um industrial inventasse e
produzisse um tipo de uísque novo, bom e barato, ele teria um mercado garantido
nas terras britânicas. No entanto, se ele tivesse a ideia de decorar as
garrafas desse líquido com a bandeira do império, não deveria ficar surpreso ao
ver que a maioria dos habitantes do Estado Livre da Irlanda recusaria a honrosa
oferta de bebê-lo."